Uma viagem recente com o Uber foi abortada abruptamente por um motorista mal-educado,
que não entende absolutamente nada da proposta de valor que o aplicativo tem tentado defender nos tribunais.
A Corte Europeia deve decidir em breve se a Uber deve ser vista como empresa de transporte ou como um serviço digital. Enfrentando protestos e ações legais na Justiça, em todo o mundo, incluindo Brasil, Estados Unidos e Europa, a Uber é acusada de minar as práticas comerciais existentes. Na Espanha, já foi condenada como concorrência desleal ao sistema de transportes e aguardam-se desdobramentos.
Só falta provar também que o crescimento vertiginoso da Uber tem como efeito colateral a redução da qualidade do recrutamento e treinamento  (se é que existe algum) dos seus motoristas. Acabam equiparando-se aos piores exemplos dos taxistas. Na Dinamarca, a Uber é acusada  de possível cumplicidade com atos ilegais cometidos por seus motoristas, conforme noticiou o Estadão.
Em São Paulo, na semana passada, pedi um carro da Uber para levar-me com um amigo ao Instituto Socioambiental na Av. Higienópolis. Atrasados para uma reunião, esperamos na calçada. Como o carro não chegava no tempo estimado de 6 minutos, fiz contato com o motorista por telefone. Perguntei onde estava. “Perto, na João Moura”, respondeu um tal Sr. Walter e desligou. Demorou mais 3 ou 4 minutos para chegar.
Assim que entramos no carro, reparei no GPS aberto no smartphone, creio que no próprio app Uber ou Waze.  Perguntei: “O Sr. quer que indique o caminho ou prefere seguir seu mapa?”. Com o queixo e um movimento da cabeça, apontou um dedo para o smartphone. Concordei: “Ótimo, então vamos porque estou atrasado, por favor”.
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Nem bem rodamos 500 metros e notei que o motorista entrou na Rua João Moura, quando deveria entrar na seguinte, na Rua Lisboa. Bati os olhos no mapa e vi que o percurso certo estava lá. Me dirigi ao motorista: “Por favor, o Sr. pegou a rua errada, olha aí no GPS.” Me olhou pelo retrovisor e não me disse nada.
“O Sr. não seguiu o mapa,” continuei. “Temos voltar. Só que é melhor eu ir dizendo o itinerário, se o Sr. não sabe seguir o mapa.”
Visivelmente contrariado, o motorista brecou abruptamente.
Fiquei atônito com o que ele me disse: “Eu não tenho obrigação de ler mapa. Isso aqui pra mim é só um bico e eu não tenho que dar satisfações.”
“Como assim?” perguntei eu. “Se o Sr. não souber seguir o mapa, não vai dar. Eu mostro o caminho, não tem problema.”
Mais surpreso ainda fiquei quando a figura replicou agressivamente, brecando o carro: “O Sr. não vai a lugar nenhum nesse carro; aliás, vai  descer aqui já e, se quiser, pegar um taxi.”
Era um cara alto, grande, gordo e forte. Não levei mais do que um segundo para reagir. “Sim, Sr., com certeza!” Meu amigo e eu abrimos as portas, cada qual do seu lado, e descemos imediatamente.  O carro do gordão arrancou acintosamente.
Enquanto nos olhávamos, atônitos, passou um taxi. Em menos de 1 minuto. Bendizendo a sorte, embarcamos. Imediatamente recebi a mensagem que a nossa viagem abortada tinha sido cobrada pelo motorista: R$ 7,5. Abri o aplicativo da Uber, procurei onde reclamar e, não sem alguma dificuldade para navegar no menu, consegui deixar a seguinte reclamação:
“Ao embarcar, motorista seguiu mapa e dispensou minha indicação. Nos primeiros 200 metros errou o caminho e eu reclamei que já estava atrasado e que poderia mostrar o caminho se ele não soubesse ler o mapa. Nesse ponto motorista freia bruscamente o carro e nos manda descer agressivamente pois aquilo era bico, ele não tinha obrigação de ler mapa e que eu que me virasse pra chamar um táxi. E ainda cobrou R$7,5. Me parece contrário ao espírito dos novos tempos. Pior do que motorista de táxi.”
img_0619Coincidentemente, no mesmo dia, li no Facebook um comentário pertinente do amigo Ricardo Cavallini:

“A crise não é só moral, econômica e política. É também aplicatívica. O Waze e o Uber não funcionam mais como deveriam.”

Mas nem tudo está perdido. Em três dias, chegou-me uma notificação da Uber, que julgo satisfatória. Desculpou-se e deu-me  crédito para reembolsar parte do gasto.
Mas nada disse com relação ao motorista. O que vai acontecer com ele? Reciclagem?  Treinamento? Tratamento? Desligamento?
Fiquei curioso, não conheço a política da Uber para esse tipo de caso.