Time não é "tamo junto" simplesmente

“Não é porque trabalham juntos que vocês formam um time.”  Sabe o que torna vocês um time?

Vala Afshar, Chefe Evangelista Digital (CDE) da Saleforce, blogueiro do @HuffPost e autor de “The Pursuit of Social Business Excellence“, deu uma resposta simples e verdadeira, algo que se aprende na prática e, não raramente, a duras penas.

A maioria das empresas louva o trabalho em equipe. Há um esforço continuo para torná-lo realidade no dia-a-dia. Afinal é preciso um mínimo de sintonia entre os profissionais envolvidos para atender bem a necessidade do cliente.

Mas será que é sempre que se consegue formar um time, como deve ser? 

Vala Afshar respondeu:

 “Não é porque trabalham juntos que vocês formam um time. Vocês formam um time porque confiam, respeitam e se preocupam uns com os outros.”

Creio que algumas das grandes agências de comunicação no passado  –  espero que agora não mais  – falhavam em alimentar uma cultura de respeito e preocupação de uns com os outros. Obviamente, sem a mínima confiança profissional não poderiam sequer pretender realizar um trabalho de equipe.

Falei sobre isso ao receber o Prêmio GP Formadores 2014:  “Respeito aos fatos e respeito aos outros” e “Por um ambiente mais respeitoso, humano e colaborativo no trabalho“. Clique nos títulos  abaixo para expor o conteúdo embutido.

Respeito aos fatos, respeito aos outros (clique para ler)

Preciso confessar: mais do que ter sido sócio de agência e construído cases como o da marca Oi, orgulho-me de ter contribuído para o crescimento profissional e humano de muitos publicitários que trabalharam comigo. Quero crer que ajudei dezenas deles a se tornarem ótimos planejadores.

Durante os anos 90, além de head of planning, fui responsável pelos programas de desenvolvimento e treinamento profissional da JWT na América Latina, incluindo o Brasil, claro. Depois, fiz o mesmo na NBS, na década seguinte.

Defendi valores límpidos, mais do que só compartilhar técnicas e ferramentas de planejamento.

Sempre acreditei no que disse certa vez o filósofo, sociólogo e analista político francês, Raymond Aron, em uma aula de formação para jovens profissionais:

“Este curso não se destina a ensinar o que vocês devem pensar; mas gostaria que lhes ensinasse duas virtudes intelectuais: a primeira, o respeito aos fatos; e a segunda, o respeito aos outros”.

As agências avançaram incontestavelmente na primeira virtude e passaram a ter mais embasamento técnico e a planejarem melhor, apoiando-se em fatos derivados de estudos e pesquisas. Mas  o respeito aos outros continua a ser facilmente sacrificado em diversas situações, por exemplo, no afã de se ganhar uma concorrência.

Não é incomum o descuido ou a falta de respeito com os profissionais, colaboradores, free-lancers, parceiros, fornecedores…  

Falta de respeito no sentido vertical, hierárquico, de cima para baixo. A chefia, às vezes desprovida de inteligência emocional, abusa. Isso não é privilégio de agência! Qualquer tipo de empresa comete erros dessa natureza.

Em lugar da alegada meritocracia, sabemos quantos brucutus abusivos existem em postos de comando; e quantos narcisos arrogantes maltratam o comum dos mortais, aquele que não é do mesmo ofício ou da mesma tchurma.

Algumas formas de desrespeito são mais comuns: a empresa que não cumpre o que promete; a chefia que trata mal os subalternos; o profissional que destrata o colega, na lateral, ou, mais comumente, na posição abaixo; e o bullying ou o assédio moral dos mais fortes, por exemplo, sobre os (as) estagiários(as) e principiantes,

Na vida real, em toda profissão, não é difícil quem um dia é desrespeitado tornar-se desrespeitador no dia seguinte. Assim como o explorado vira facilmente um explorador.

Todos nós em algum momento da vida corremos o risco de cair nessas armadilhas. Admito, também já pequei.

Não é raro a gente se deparar hoje com planejadores metidos, que se acham com o rei na barriga.

É ruim quando a soberba contamina o planejamento. Não se justifica os planejadores sucumbirem aos vícios e vaidades que mancham o perfil de outros publicitários, até famosos, no universo das agências.

Planners que encarnam ridiculamente o velho estereótipo do criativo egocêntrico. Ou do diretorzão truculento. Mais patético ainda é quando são jovens pomposos, fedelhos com pedregulhos na boca, falando difícil.

Vão frontalmente contra a ideia de que o planejamento, por definição, deve ser o metiê mais generoso do nosso meio. Mais do que ninguém, existimos para ajudar os outros a brilhar.

Ouvindo. Estudando, pesquisando. Alimentando, estimulando as pessoas com insights e informações. Propondo rumos ou caminhos possíveis. Sintetizando, consolidando.

Somos um meio, não um fim. Nosso fito é contribuir para melhorar o processo de trabalho e o resultado dele.

Afinal, planejar significa antecipar as decisões que são necessárias para melhorar as chances de êxito de uma iniciativa, um intento, uma ação – uma campanha, por exemplo!

Burnout
Assédio moral, violência verbal

Por um ambiente mais respeitoso, humano e colaborativo no trabalho (clique para ler)

Defendo aqui os valores que procurei cultivar na minha agência, além do pacote indispensável de talento e competência.

Mais liberté, égalité, fraternité, em todos os sentidos. Ou mais humanidade, colaboração e respeito.

Você já foi desrespeitado por algum motivo, em alguma empresa?

Tratado com desdém por ser mulher, ou nordestino, ou negro, ou índio, ou estagiário e inexperiente dentro de uma agência?

Já pensou quanto dinheiro você ganharia se as agências respeitassem a hora extra?

Ou quanto tempo mais teria para si mesmo e sua família, se fossem respeitados os horários de trabalho, os fins de semana e feriados?

No mundo inteiro há um momento em que toda agência, toda empresa, precisa de um mutirão. Não tem jeito, às vezes é preciso virar a noite. Mas o que deveria ser exceção, no Brasil é a regra.

Não se preza gente hardworking simplesmente; o que se quer é um bando de workaholics.

Sabe aquele ideal da agência de fazer de você um profissional que respira, come, ama e sonha com o trabalho? Então, é pura enganação!

Uma caricatura: “Agência Universal do Reino dos Meus”, onde quem ganha mesmo são os profetas, donos dela, e seus pastores bem remunerados.

De abuso em abuso, tenho a impressão que as agências às vezes podem virar fábricas de gente infeliz. Como se pode querer tirar o máximo de criatividade de quem trabalha infeliz?

O sonho de alguns publicitários depois de um certo tempo, mesmo ganhando bem, é deixar de ser publicitário para fazer outra coisa.

Sei lá, abrir uma sorveteria, um restaurante, uma startup, até mesmo uma consultoria… ironicamente, usando o capital que um bom emprego em uma agência lhe permita juntar!

Porque, cá entre nós, agência é onde dá pra ganhar um bom dinheiro, embora ralando como um infeliz.

Por tudo isso, fico pensando se, em lugar da era glamurosa dos MAD MEN, não estaríamos vivendo nas agências a era opaca dos SAD MEN.

Confiança, respeito e preocupação com o outro
Empatia e humanidade

Participei de times formidáveis nas agências em que trabalhei: Cato Johnson (1982-1984), Deck Propaganda (1984-1988), J. Walter Thompson (1988-2001), NBS (2001-2010) e Colmeia (2011).