Fernanda Valdívia e eu passamos o mês de janeiro na Espanha, sediados em Barcelona, onde temos amigos e familiares. Nos últimos dias, aconteceu algo extraordinário – conseguimos uma reserva para jantar no Celler de Can Roca, o melhor restaurante do mundo naquele momento.
Havíamos tentado reservar antes da viagem, em dezembro, mas fomos informados de que só seria possível em outubro de 2014. Nos conformamos. Eis que a Helena Rizzo, do Mani, manda uma mensagem à Fê dizendo que tinha conseguido a reserva no Celler de Can Roca para um casal. Helena trabalhou lá, onde conheceu o marido, Daniel Redondo, que foi sous-chef da equipe dos irmãos Roca por muitos anos.
Era uma reserva para a noite seguinte, quarta-feira, em Girona, a cerca de 100 km de Barcelona, onde estávamos. O problema é que sairíamos para o aeroporto, como de fato saímos, às 06:00 da manhã do dia seguinte, quinta-feira. Mas não titubeamos. Tomamos um trem de alta velocidade em Barcelona às 19:30 e chegamos a Girona pouco depois das 20:00.
Fomos direto para o Celler e de lá saímos às 23:40. Não tinha mais trem. Tomamos um taxi e fomos dormir à 01:30 em Barcelona. Viajamos cansados para o Brasil, mas felizes. Não poderia ter havido melhor despedida.
Uma experiência de prazer, única, rara, inesquecível, cara e talvez irrepetível em nossas vidas. Fotografamos tudo com o iPhone 5S, apesar da luz ambiente não ser apropriada. Mas conseguimos pegar todos os pratos, todos os vinhos.
O restaurante lotou, como era de se esperar. Gente da mais alta estirpe e fortuna, claro. Éramos os pobrinhos do pedaço.
A experiência gastronômica foi extasiante. Fomos tratados de modo especial e amistoso, por causa da Fernanda, que faz parte da equipe da Helena no Mani – cumprimentados pessoalmente por cada um dos três irmãos Roca. Fomos levados à cozinha e depois à adega. Eu queria, mas tive vergonha de pedir para tirar foto! Não tiramos.
Porém, montamos a apresentação abaixo para compartilhar a experiência com os amigos que curtem a gastronomia, usando nossas fotinhas de iPhone para ilustrar o roteiro dos 21 pratos e 14 vinhos que provamos.
Em seguida, compartilho também o texto que a Fê escreveu para o blogo do Mani.

El Celler de Can Roca – por Fernanda Valdívia
“Há muito tempo li no jornal sobre o projeto de João Moreira Salles que consistia em enviar escritores a diversas partes do mundo para escreverem sobre temas variados. E lembro-me de procurar na lista o autor que mais gostava e me surpreender com sua premissa: amor em Paris. Porque eu esperava algo mais original e percebi que não haveria nada mais difícil. Falar de amor em Paris. Falar de gastronomia, no Celler.
Passei o mês na Espanha, entre Catalunha e Andaluzia, entre indicações da Helena e do Dani, entre sabores novos e afetivos. E justo no último dia, ou melhor, na última noite, com as malas fechadas, veio o grand finale, graças à Helen: reserva para dois no Celler, não percam!
O que mais me impressionou foi o movimento de tudo e de todos. Não quero deixar a comida em segundo plano, nunca. Mas o fator surpresa mesmo, e talvez o que mais me encanta, é o movimento humano em torno da comida.
Então, quando me dei conta da sincronia com que chegavam os pratos, da segurança com que falavam os camareiros, da simpatia, do profissionalismo, da seriedade, fiquei entregue. Essa é a máxima do serviço, deixar o cliente absolutamente a vontade, sem se descuidar dele por um minuto. Quando fomos à cozinha, uma cozinha moderna, bonita, o movimento dos cozinheiros recorrendo suas praças, o movimento dos chefes, nos cumprimentando, todos esses corpos falavam a mesma língua. A única forma de chegar à essa afinidade com a equipe é mantê-la sempre instigada; e se estavam, é porque havia admiração também. E quando um funcionário admira seu chefe, a onda reverbera em quem está de fora.”
Visite o site do Celler de Can Roca.