Essa é uma brincadeira que se alastrou no Facebook e outros canais. Conte dez coisas que lhe aconteceram, sendo uma delas mentira. Peça que advinhem qual é. 
A brincadeira se tornou um meme. Repetiu-se de diversas formas nas redes sociais, até na grande mídia (Veja, O Tempo, Extra etc.).  
A tentação de revelar fatos inusitados ou pitorescos da sua vida é mais  forte. O ego falou mais alto, aderi. 

Nesse imenso universo da fofoca que é a internet em geral e o Facebook em particular, a maioria dos amigos revelou verdades e mentiras sobre sua vida pessoal. Falar do próprio umbigo é atraente. Críticos desceram o cacete no “ego inchado” dos que aderiram, como eu. 

Segue a lista de 10 fatos que marcaram a minha vida. Só um deles é mentira, advinhe qual. Clique para ver o conteúdo de cada um.

É verdade. Enquanto estudava em Paris, em 1972, fui fazer um bico como figurante no filme  de suspense “Traitement de Choc“, rodado quase todo em Belle Ille, na Bretanha. No começo das filmagens, um ator português ficou doente e o diretor, Alain Jessua, fez um teste entre os figurantes. Passei e fui contratado para substituí-lo. Fiquei várias semanas filmando na ilha. Ganhei o cachê que me sustentou por muitos meses em Paris.
Fiz o papel de Manoel, um dos imigrantes portugueses que trabalhavam clandestinamente na clínica do médico interpretado por Alain Delon. O Dr. Devilers tirava o sangue dos imigrantes ilegais, literalmente, para produzir o tratamento de beleza dos pacientes da clínica, membros da alta burguesia francesa. Em torno da minha morte e da descoberta do meu cadáver numa câmara fria, pela paciente e protetora, Annie Girardot, se desenrola o clímax dessa alegoria política.

O mais risível desse filme é que o personagem do Alain Delon teria conhecido o tratamento rejuvenescedor com os índios da Amazônia, onde morou e aprendeu português. Dei aulas de pronúncia para ele no camarim.

Também engraçado, típico dos anos 70, é ver Alain Delon, Annie Girardot e os vários atores, pacientes da clínica, peladões em cena. Aliás, a propósito, li no Estadão: “Alain Delon anuncia fim da carreira aos 81 anos“.
Curiosa é a abertura com os créditos, onde apareço aos 24 anos (o último sentado na rabeira da camionete, à direita) com a trilha sonora de ‘Paraiso de Pobre’ de Martinho da Vila, tema musical do filme.

Cá entre nós, é um filme trash total!

É verdade. Em meados dos anos 90, eu era Diretor Vice-Presidente de Planejamento da J. Walter Thompson na América Latina e no Caribe. Ganhamos – André Pinho (diretor de criação), David Byles (diretor de mídia) e eu – a conta do lançamento da DirecTV na região.

Viajamos a Cabo Canaveral, base espacial norte-americana na Flórida, com os acionistas e o alto comando da empresa para assistir de camarote o lançamento do primeiro satélite do novo canal, concorrente da Sky.

É verdade, morei em 5 países diferentes, por 3 meses pelo menos.

Estados Unidos: Aos 17 anos ganhei uma bolsa de estudos do American Field Service e passei um ano em Poland, Ohio (1967-68) vivendo com uma família americana. Já tinha concluído o Colegial Científico em Atibaia, SP, mas ganhei também o diploma americano do High School. No verão de 1971, com bolsa de estudos da Interamerican University Foundation, fiz um curso de planejamento na Harvard University Summer School.
França: Em 1972, pedi transferência da Faculdade de Ciências Sociais da USP para a Université de Paris I, Pantheón-Sorbonne, onde estudei para obter o DEEG, Diplôme d’Études Économiques Générales, em 1974.
Suécia: Em 1974, morei e trabalhei três meses em Estocolmo com uma licença temporária para estudantes. Recolhia lixo nos quartos do Hotel Hilton. Lavei pratos e fui assistente de cozinha em um restaurante italiano. Juntei dinheiro para viajar.
Portugal: viajando, fui parar em Lisboa logo após a Revolução dos Cravos. Entre 1975 e 1976, aí vivi e trabalhei como jornalista free-lancer. Fui colaborador no jornal semanal Expresso. Viajei com a equipe da Rádio e Televisão Francesa (RTF) para fazer  um documentário sobre as ocupações camponesas no Alentejo, com o Daniel Cohn-Bendit, ou Dani, le rouge, líder estudantil das passeatas de Maio de 1968 em Paris,  político franco-alemão, ex-deputado europeu pelo Grupo Verde e hoje apresentador da RTF.
Argentina: em 1990, aceitei o convite para ser de Diretor de Planejamento no escritório da J. Walter Thompson em Buenos Aires, onde me projetei profissionalmente, fiz grandes amigos e morei até 1993.

Acertou quem disse que essa afirmação era tão possívelmente verdadeira, que deveria ser mentira. Fui assaltado, sim, e me levaram todo o dinheiro, mas não foi no Rio de Janeiro. Foi em Roma, depois de um Seminário Sam Meek da J. Walter Thompson Europa, realizado dias antes em Como, em meados dos anos 90.
Dois indivíduos em uma moto agiram rapidamente me cercando em uma calçada escura de Roma, tarde da noite, um deles armado com o que supus ser um canivete . Não reagi, entreguei tudo ligeiro e não foram violentos. Tinha deixado passaporte e cartão de crédito no hotel. Fui embora na manhã seguinte sem fazer boletim de ocorrência.

É verdade. A comédia “Touche Pas À La Femme Blanche” – “Não toque na Mulher Branca” – do diretor italiano Marco Ferreri, é uma sátira da batalha de Little Bighorn, a última em que lutou a Sétima Cavalaria com os índios sob o comando do General George A. Custer, interpretado por Marcelo Mastroiani,  Só que, ao invés do velho oeste, nesta paródia a história se passa em Paris, no começo dos anos 70, quando eu lá morava.

Descontente com as “tribos” de hippies, artistas, atores, ciganos, ativistas e anarquistas etc., que habitavam o entorno da escavação do antigo mercado municipal Les Halles (onde se construiria o atual shopping center ‘Forum des Halles’), o prefeito de Paris (Ugo Tognazzi) decide chamar o General Custer com a Sétima Cavalaria e Buffalo Bill (Michel Piccoli) para expulsar os bárbaros que atrapalhavam o progresso.

A farsa em que se tranforma a paródia se mostra nesse diálogo entre a mulher do prefeito, Marie-Hélène de Boismonfrais (Catherine Deneuve), e o general americano, com quem tem um caso amoroso:

Marie-Hélène: Confesso que não entendo a atitude dos índios. É óbvio que o Senhor dedicou essa terra aos brancos, para que a colonizassem, então por que eles resistem?

General Custer: Porque são selvagens. Selvagens!. Às vezes acho que são possuídos por demônios.

Marie-Hélène: Deus nos livre disso!

General Custer: Deus e a Sétima Cavalaria.

É verdade. Fora tirar as amígdalas aos 5 anos,  todos os procedimento ocorreram de 1999 em diante. A lista completa: amígdalas | angioplastia + stent | diverticulite | colostomia | hérnia abdominal |ligamento joelho | lifting pescoço | lipo abdominal | artrodese L5-S1 | descompressão L5-S1 | artroscopia quadril direito | artroscopia quadril esquerdo | parotidectomia parcial | descompressão L4-L5 | próstata | hérnia abdominal | parotidectomia total | catarata E e D

É verdade. Passei boa parte da infância e adolescência em Mato Grosso do Sul, nos anos 50 e 60. Me apaixonei pelo Pantanal onde aprendi a pescar e a caçar com meu pai e amigos fazendeiros. Ganhei uma espingarda calibre 22 short aos 9 anos. Aprendi a atirar com ela, além de uma cartucheira 20, uma carabina 38 e um revólver 38. Meu pai me ensinou a soltar o peixe que ninguém iria comer e a poupar a caça que não fosse virar rango.
Mas cometi pecados dos quais hoje me arrependo. Recebi dinheiro para matar periquitos que dizimavam as frutas do pomar na fazenda do Tico. Treinei tiro ao alvo em jacarés da baia no Rio Negro. Matei a porca de raça do Sr. Timóteo na fazenda Retirinho, achando que era porco-do-mato. Matei capivara que nunca comi.
Hoje não caço mais, porém continuo indo todo ano ao pantanal sul-matogrossense pescar nas fazendas de alguns amigos de infância.  Mas essa é outra história.

É verdade. Do meu primeiro casamento com a Tania Celidonio, tivemos a Mariana. Depois me casei com a Bia Blandy que nos deu o caçula, Theo. Com a Bia, veio a filha que tivera com seu ex-marido, Pedro Cortizas. Anita tinha um ano e eu a criei como minha filha. com a Bia veio também o Diego Cortizas de 5 anos, filho do Pedro com sua primeira ex-mulher, a modelo japonesa Lia Takei. Diego foi criado em casa, mesmo não sendo filho da Bia nem meu. Os quatro não poderiam ser mais unidos e companheiros mesmo se fossem irmãos verdadeiros de sangue.

É verdade. Em 1975, conheci a Gwenael Amendola em cima da um tanque dos Comandos da Amadora, que desfilavam pela Avenida Dom Carlos I, em Lisboa, em uma manifestação a favor da Revolução dos Cravos, ocorrida a menos de um ano antes (abril de 1974).
Era italiana e tinha acabado de chegar a Portugal com o namorado Jacopo Fo, escritor, ator, cartunista, diretor e ativista cultural italiano, filho do falecido escritor e dramaturgo Dario Fo (Nobel de Literatura em 1997). Jacopo queria ilustrar a ebulição revolucionária de Portugal para a revista francesa, Metal Hurlant (publicada também nos Estados Unidos com o nome de Heavy Metal).
Gwenal e eu nos conhecemos durante a passeata, nos tornamos amigos e depois namorados. Moramos um ano e meio em Portugal e depois outro tanto no Brasil. Ela tinha sido modelo do fotógrafo David Hamilton e no Brasil trabalhou com moda, foi capa da Playboy e Status.

É verdade. Em momentos diferentes da nossa história votei em cada um deles. Não tenho o que explicar dessa diversidade. Melhor deixar para lá…